Afinal, o que faz um Terapeuta Ocupacional no GASC?
Em primeiro lugar, o Terapeuta Ocupacional usa a ocupação/atividade como o seu método de intervenção principal. Ou seja, é através de uma atividade que um terapeuta ocupacional intervém no sentido de melhorar as dificuldades que uma pessoa pode apresentar e potenciar as competências que já apresenta.
Se pensarmos no nosso dia-a-dia, existem muitas atividades que estruturam e fazem parte da nossa rotina, sendo umas mais complexas que outras. Existem atividades que fazemos em que lhes atribuímos maior significado que outras. E, parecendo que não, tudo isto é importante para cada um de nós!
No caso de crianças com PEA a rotina é algo fundamental que, à semelhança do que acontece com as restantes pessoas, faz com que se sintam mais seguros e orientados face ao que os espera em cada dia. Contudo, perante as dificuldades associadas à sua patologia, o seu desempenho nas várias atividades que compõe o seu dia-a-dia pode não ser o melhor!
Por exemplo, pensando num dia normal e numa rotina matinal, logo que acordam podem ter de ir à casa de banho, lavar os dentes, vestir, tomar o pequeno-almoço e sair para a escola. Ora, para a maioria das pessoas poderá ser algo comum e até muito fácil conseguir realizar todas estas tarefas de forma autónoma. Mas muitas vezes para estas crianças não é bem assim! Por isso, enquanto Terapeuta Ocupacional, há que trabalhar a sua autonomia e funcionalidade nas chamadas Atividades da Vida Diária (AVDs), para que aos poucos melhorem o seu desempenho e no futuro sejam cada vez mais independentes, principalmente ao nível dos autocuidados. E este é um dos nossos focos principais logo que a criança inicia a sua intervenção no GASC! Para isso, temos atividades de piscina em que trabalhámos o banho e o vestir no balneário, lavamos os dentes após as idas ao café e lavámos sempre as mãos depois de ir à casa-de-banho!
Mas nem só as AVDs são importantes! À medida que vão crescendo, surgem novos desafios e necessidades nas quais são postos à prova. Quando chega o momento de se deslocarem na rua, usarem os transportes públicos, irem ao supermercado/café, arrumar e limpar, ou preparar um pequeno lanche também podem surgir obstáculos! A isto dá-se o nome de Atividades da Vida Diária Instrumentais (AVDIs) e dizem respeito à forma de como as pessoas se relacionam com o contexto em que estão inseridas, principalmente na comunidade e em casa. Aqui no GASC também é uma das áreas de intervenção, em que gradualmente vamos tentando que as nossas crianças tenham cada vez mais autonomia. Para isso, vamos a pé ao café, vamos de transportes públicos ao supermercado, arrumámos as instalações do GASC e fazemos atividades de culinária para vender saborosos petiscos na nossa banca.
E depois existe ainda a questão sensorial, que no caso do autismo também é fundamental analisar com atenção! Mas isso é melhor ficar para outro dia…
Continuando, não nos podemos esquecer que no GASC estamos a trabalhar com crianças! Logo, sempre que criamos novas atividades temos de incluir o Brincar, que nesta fase das suas vidas é algo essencial!!! Todas as atividades que foram acima referidas encontram-se camufladas por uma brincadeira ou jogo, aparentemente, lúdico. Mas que no final, também permite que interajam com outras crianças da sua idade, adequando o seu comportamento e discurso, mas acima de tudo que disfrutem de algo que lhes seja significativo!
Por exemplo, se pensarmos em tarefas como o arrumar ou limpar, é algo de que muito provavelmente toda a gente quer distância! Mas, e se arranjarmos aqui um motivo pelo qual podemos tornar isto mais interessante? No caso do GASC em específico criámos uma mascote – o Frank – e com isso fomos motivando as nossas crianças a manter sempre tudo limpo e arrumado, visto que o Frank vive connosco. Nada como aguçar a sua motivação!
Resumindo este já extenso palavreado, o “segredo” por trás do trabalho do Terapeuta Ocupacional e do GASC é misturar o Brincar com as atividades de Autonomia. No fundo, trabalham tudo o que é essencial para o seu dia-a-dia de uma forma mais significativa, onde o peso da exigência imposta é camuflada pela motivação que têm em atingir determinado objetivo. Isto sem esquecer de graduar tudo o que é proposto à dificuldade de cada um, mas criando as devidas oportunidades para desenvolverem as suas competências e aprendizagens. E claro que em equipa tudo se torna mais fácil! Este é outro segredo que por vezes, muitos teimam em deixar de lado e que também é importantíssimo na nossa intervenção no GASC, quer em relação às nossas crianças como em relação aos técnicos que dinamizam as sessões.
Adaptando o que dizia o outro: “É no brincar que está o ganho!”.
Terapeuta Ocupacional GASC: Edgar Silva.